A Viviana pelo reino da Dinamarca

Há pouco mais de um ano atrás não planeava emigrar, muito menos voltar a estudar. É certo que, como muitos, sentia o “bichinho” de sair do país e ir viver a aventura. Muitas vezes pensava nisto e, entre conversas sobre amores e desamores, emprego e desemprego, políticos e aproximações, de vez em quando atirava ao ar um “qualquer dia vou-me embora, fujo daqui”, mas não havia algo em concreto, nenhum plano em curso.

Numa tarde de Agosto, depois das usuais 9 horas diárias num 3º andar na Avenida da República sem estrutura base para sobreviver ao menor abanão, em conversa com um amigo, soube que na Dinamarca os cidadãos da União Europeia não pagam propinas. É isso mesmo, estudar aqui é grátis. Assim que cheguei a casa, agarrei-me ao Google e tentei descobrir o máximo possível no menor espaço de tempo. Depressa comecei a ficar seriamente entusiasmada com a ideia de voltar a estudar, de viver na Escandinávia, de outra vez poder sentir que existe luz ao fundo do túnel que, neste caso, representaria o meu percurso profissional e a minha estabilidade económica. Pouco tempo depois a decisão estava tomada.

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Assim, estou em Aarhus faz agora três meses e não podia estar mais satisfeita com a decisão que tomei: a cidade é muito, muito bonita, acolhedora e dinâmica. Apesar de não ser uma metrópole, Aarhus é uma cidade cosmopolita e tem uma grande vida cultural. Este dinamismo está possivelmente também relacionado com o facto de ser uma das mais jovens cidades europeias (com cerca de 45.000 estudantes, sendo que um em cada oito vem de fora). Aqui também é possível desfrutar da Natureza e vida selvagem: para além dos imensos parques, em cerca de 20 minutos de bicicleta chegamos a um dos lagos, à praia ou à floresta. Sim, praia! Com areia! E a temperatura do Mar Báltico não é assim tão diferente do nosso Atlântico.

Após seis anos a trabalhar, não é propriamente fácil voltar a estudar mas estou a gostar muito do sistema de ensino pois, para além de só ter aulas oito dias por mês, o ambiente é muito descontraído – aqui tratamos os professores pelo nome, sem doutores nem engenheiros – e a matéria é dada quase como se estivéssemos a discutir um tópico entre amigos, é suposto aprendermos a pensar e não a decorar. Mais, uma vez que os “danes” facilmente arranjam motivos para ingerirem o seu desbloqueador social preferido, existe uma prática semanal chamada “Friday bar”, ou seja, à sexta-feira à tarde juntamo-nos no departamento – no meu caso é na sala de aula, onde também temos uma mesa de matraquilhos – para beber umas cervejas.

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Concluindo, a Dinamarca é um país desenvolvido, um país de pessoas educadas, muito prestáveis e de mente aberta, onde o individualismo não é egoísmo, é respeitar o próximo, no seu espaço e na sua essência. Aqui voltei a sentir esperança num futuro onde existem conceitos como progressão de carreira, segurança e estabilidade social e económica, ou não fossem estes alguns dos critérios pelos quais este pequeno grande país foi considerado o mais feliz do mundo.

Despeço-me com um optimista ponto de interrogação no ar pois, não só ainda não percebi se as saudades da família, dos amigos, dos nossos petiscos e rituais se vão tornar cada vez mais intensas ou se acabarei por me habituar e contentar com duas visitas anuais, como também estou ainda à espera para enfrentar o meu primeiro Inverno escandinavo mas, daqui a uns meses, espero gostar tanto de aqui estar quanto gosto agora.

Viviana Garcia

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