Continuando a senda de entrevistas semanais no nosso espaço, desta vez vamos até África, conhecer a Susana.
Susana Cigarro tem 33 anos e trabalha em Angola desde Setembro de 2010. Licenciada em Design de Comunicação e Técnicas Gráficas, desenvolve o seu trabalho em território Angolano na empresa Damer Gráficas S. A., onde é Técnica de Pré Impressão.
Porque saíste de Portugal, oportunidade ou necessidade?
SC: A minha saída do País, aconteceu na altura certa. Vejo-a como uma oportunidade de conseguir ir mais além, do que o nosso País me permitia na altura. Tornou-se produtiva e motivadora, pois a função de formar pessoas e ajudar um País a crescer faz com que cada dia seja diferente e desafiante.
Como conseguiste o teu espaço/oportunidade lá fora?
SC: Informaram-me que existiam vagas na minha área, pré impressão, numa gráfica nova. Tinha algumas pessoas conhecidas na empresa, mas decidi não saltar etapas e seguir pelos caminhos normais, por isso respondi ao anúncio, que estava na “Net empregos”, e esperei pela minha vez.
Não fui aceite na primeira entrevista, mas após passarem alguns meses recebi uma chamada Telefónica com a proposta final, o que me deixou surpreendida e com um certo frio na barriga, senti logo ali o que me ia acontecer e que era o momento.
Foi fácil a integração e habituação a este novo desafio?
SC: Quando divulguei ao meu meio a minha decisão, ouvi muitas coisas, “Que era um país perigoso”, “não podia andar sozinha”. Foi um pouco assustador, mas disse várias vezes, “vou esperar para ver. Quando chegar a hora tiro as minhas conclusões”.
Foi engraçado, que ao falar com pessoas que já tinham estado em Angola, o meu medo acalmou. Disseram-me o que eu agora vejo, é um país com uma alegria que só ele conhece e onde em cada casa há uma festa.
Talvez um pouco confuso, mas cheio de pequenas maravilhas para irmos descobrindo. Não deixa de ser complicado, e não se pode ver Angola, como um país de aventura, em que qualquer português pega na mochila e vem fazer pela vida. A menos que se tenha a oportunidade de vir dar formação e apoiar o crescimento do país, não vale a pena criar a ilusão que se chega cá e depois “logo se vê”.
Positivo é principalmente o sorriso das crianças que ainda brincam na rua com o pião e ainda chegam a casa sujas de pó mas com o olhar feliz, dão importância a cada dia que passa e a cada momento.
Sentes o teu trabalho mais reconhecido e mais valorizado no país que te acolheu?
SC: Claro que sim. Ao aceitar este projecto passei a chefiar uma equipa, formando jovens. Todo este processo de trabalho é moderno e ainda não há pessoas formadas na área. Para mim é bem interessante, pois sou como uma quase pioneira e ao mesmo tempo estou a ajudar. Sabe bem a qualquer ego sentir que o nosso trabalho vai mesmo criar frutos e que um dia mais tarde estão pessoas a fazer algo que ensinei.
O que mais e menos gostas na vida de emigrante?
SC: As saudades dos domingos que normalmente passava em família. Por mais que tenha praias, bares nocturnos e jantares bem animados, existem sempre essas saudades, que teimam em apertar todos os domingos à tardinha.
Positivo é principalmente o sorriso das crianças que ainda brincam na rua com o pião e ainda chegam a casa sujas de pó mas com o olhar feliz, dão importância a cada dia que passa e a cada momento.
Como vês a situação em que se encontra Portugal e mais concretamente os portugueses?
SC: Preocupante. Neste momento estou longe e apanhei uma grande oportunidade, mas durante os quase 10 anos em que trabalhei em Portugal, senti a crise.
Trabalhei em duas empresas, que por problemas financeiros, me ficaram com alguns ordenados em atraso e nunca me pagaram os subsídios de férias e natal a que tinha direito.
Por isso, não tenho as melhores experiências em Portugal, e tenho pena que isso aconteça, pois é o meu País. Nos dias que correm a crise tem criado raízes e está a apanhar as várias industrias e principalmente o comercio. Ver as pessoas sem poder de compra e a regredir deixa qualquer pessoa preocupada e a pensar no futuro.
Tens intenção de regressar a Portugal num futuro próximo?
SC: Não está nos meus planos. Pelo menos por enquanto.
Que conselho dás a quem pensa emigrar neste momento?
SC: Nunca desistir, ir tentando sempre e apanhar as oportunidades sem medo. É muito importante não parar, mesmo no desemprego tentar estar em constante formação, pois nunca se sabe onde se escondem as oportunidades.
Depois disso, nunca baixar os braços, nem que para isso se tenha de começar a lavar pratos, cada grande personalidade ou grande empresa teve de começar por qualquer lado. Mas principalmente, nunca perder a esperança.
Obrigado por esta entrevista e pela oportunidade. Boa sorte para o futuro!