As várias declarações de apelo à emigração por parte do governo

Ainda em relação às declarações de hoje do 1º Ministro, que disse que “ninguém aconselhou os portugueses a emigrarem”, eis que aparece um apanhado de todas as vezes que os representantes do governo português aconselharam os portugueses a emigrar.

Jovens, desempregados e professores. Todos foram alvo de declarações de membros do Governo incentivando-os a procurarem emprego onde existe: lá fora. Mas hoje Passos Coelho afirmou que nunca houve esse conselho. O Negócios relembra o que foi dito.

“Ninguém aconselhou os portugueses a emigrarem”. A declaração foi feita esta quinta-feira, 17 de Janeiro, pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em França. A emigração, disse, não pode ser um estigma (Passos Coelho já tinha feito idêntica afirmação em relação ao desemprego), significando, no entanto, que muitos portugueses não encontram no país “as oportunidades de realização profissional e de emprego de que dependem também para poder satisfazer as suas responsabilidades familiares”.

A ideia não é nova. Não há emprego em Portugal, é procurar oportunidades lá fora. Apesar do desmentido de hoje de Passos Coelho, vários seus governantes tiveram, ao longo da actual legislatura, idêntico discurso e conselho. Até o próprio primeiro-ministro considerou que os professores não colocados podem olhar para o mundo da língua portuguesa para conseguirem emprego.

A primeira polémica aconteceu a 31 de Outubro de 2011, quando a Lusa emitiu uma notícia, citando o secretário de Estado do Desporto e da Juventude, Alexandre Mestre, dizendo que: “se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras”.

O conselho foi dado pelo secretário de Estado numa conferência no Brasil. Dias depois, ao “Correio da Manhã”, Alexandre Mestre desmentia a declaração, mas a Lusa manteve-a.

E os estilhaços chegaram ao Parlamento. Miguel Relvas, ministro-adjunto dos Assuntos Parlamentares, foi instado a comentar as declarações de Alexandre Mestre, qualificando-as de normais. Respondendo à oposição, Miguel Relvas, a 16 de Novembro de 2011, declarou: “Quem entende que tem condições para encontrar [oportunidades] fora do seu país, num prazo mais ou menos curto, sempre com a perspectiva de poder voltar, mas que pode fortalecer a sua formação, pode conhecer outras realidades culturais, [isso] é extraordinariamente positivo”, afirmou.

“Nós temos hoje uma geração extraordinariamente bem preparada, na qual Portugal investiu muito. A nossa economia e a situação em que estamos não permitem a esses activos fantásticos terem em Portugal hoje solução para a sua vida activa. Procurar e desafiar a ambição é sempre extraordinariamente importante”, reforçou Miguel Relvas, ideia que repetiu em outros foruns.

Nesse mesmo ano, em Dezembro, Passos Coelho, em entrevista ao “Correio da Manhã”, acrescenta aos jovens, aos desempregados e professores não colocados na lista de potenciais emigrantes.

A pergunta ia direccionada: “Nos professores excedentários, o senhor primeiro-ministro aconselhá-los-ia a abandonar a sua zona de conforto e procurarem emprego noutros sítios?”. A resposta: “Angola, mas não só Angola, o Brasil também, tem uma grande necessidade ao nível do ensino básico e do ensino secundário de mão de obra qualificada e de professores.Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm nesta altura ocupação e o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos. Nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou querendo-se manter, sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa”. Depois destas declarações, foram os próprios professores e desempregados que aconselharam o primeiro-ministro a emigrar.

Fonte: Jornal de Negócios