Não é de boa vontade que alguém emigra, mas estaria a mentir se dissesse que não tinha vontade de experimentar outro país, outra cultura, sair da zona de conforto do país natal, onde a família e os amigos alegram nas alturas boas e ajudam nos tempos difíceis.
A procura de projectos aliciantes a nível profissional costuma ser a razão para ir tentar trabalhar lá fora. Mas a situação actual do país dá uma ajudinha à ‘razão’, especialmente se temos filhos e queremos que estes tenham pelo menos as mesmas oportunidades que nós tivemos. Já não se trata de dar o melhor aos nossos filhos, mas sim pelo menos o mesmo. Eu sou de uma geração que teve boas oportunidades.
Como já escrevi no fórum, existe uma diferença entre Emigrar e Trabalhar No Estrangeiro. Emigrar parece um pouco mais pesado, temos de deixar tudo e ir como que numa cruzada do tempo dos descobrimentos. Trabalhar No Estrangeiro, parece mais ‘light’… vamos lá trabalhar mas depois, de tempos a tempos vimos a casa ver o ‘pessoal’, como se fossemos universitários que vão a casa ver a famelga e os amigos. Estamos contentes por estar num mundo diferente, mas o ‘quentinho’ de regressar a casa é como um copo de água fresca quando estamos com sede. Não estou aqui para juntar $$ para comprar uma vivenda. Estou aqui para viver.
É desta forma que tentamos ver a nossa vida em Sydney. Tentamos… Arrastei a minha esposa e o meu filho de 11 anos nesta aventura maluca de deixar o conforto do T2 no Infantado (Loures) para o outro lado do mundo.
O que ganhei? Além de uma união mais forte na minha família de 3, num conforto financeiro e de um maior reconhecimento profissional, encontrei uma sociedade capitalista, virada para a família onde o trabalho é bastante bem pago. Tem o bom e o mau de qualquer sociedade, mas também o equilíbrio na distribuição do dinheiro por entre os trabalhadores. Se todos ganham bem, existem menos divergências, menos problema. Na casas onde há pão, ninguém ralha. O resto são escolhas. Onde vamos? O que vamos fazer?
O que perdi? Perco a mini e a empada, no meio de dois dedos de conversa, na ‘Churrasqueira do Infantado’ com o Jorge ao fim do dia de trabalho; Perco os fins-de-semana no monte dos meus sogros na Vidigueira, com belos churrascos; Perco as visitas a Portalegre para ver os amigos (um tinto no café do Tavares nos ‘Besteiros’) e a família (enjavardando-me com uma terrina de farófias da Avó Maria)… e os jogos do Glorioso (que passam a horas inviáveis em Sydney).
Mas fui só eu que perdi? Ou o país também perdeu? O pequeno filme que escolhi para acompanhar este primeiro dos artigos semanais que vou fazer aqui, mostra o que o nosso país está a fazer a esta geração de emigrantes quase forçados.
Às sextas-feiras, nas escolas públicas na Austrália, as manhãs são ocupadas com a ‘Assembly’, onde os melhores alunos da semana são destacados e faz-se um sumário do que foi feito na semana e prepara-se a próxima.
A primeira coisa que fazem é cantar o hino da Austrália, onde dois alunos seguram na bandeira do país (e de outras bandeiras representantes das comunidades aborígenes).
Do lado direito está o meu filho Bruno. O Bruno deixou de ver o Benfica porque dá tarde. Agora vê os Canterbury Bulldogs, uma equipa de rugby. O Bruno substituiu o ‘soccer’ na escola pelo rugby. Substituiu os livros portugueses pelos livros juvenis em inglês. E na imagem está a cantar o hino australiano, e já nem se lembra do português. Será que no dia que eu quiser voltar, ele irá dizer não? Será que quando nos pedem para emigrar, não se lembram que podemos já não voltar.
Para concluir: Estejam atentos aos artigos das próximas semanas. Irei mostrar as situações práticas e rotineiras por aqui. Não quero substituir nenhuma instituição ou servir de base legal para nada ou ninguém. É a minha experiência pessoal e vale o que vale.
Saúde e Sorte,
Tiago Bruno
[email protected]
8 Comments
Andreia
Força! Apoio a 100%! Cada vez mais tenho a certeza que emigrar para a Austrália ou NZ será a melhor opção! Obrigada pela partilha da experiência!
Joao Silva
Olá Andreia como posso fazer para tentar ir para Austrália será se eu for na embaixada em lisboa consigo trabalho de melhor confiança ?
Avelino Rodrigues
Força, sei bem do que fala, eu também tive de trabalhar para fora do país, para não dizer emigrar. Estou em Angola e aqui consigo ver o Benfica a horas decentes e comer uma empada e beber uma mini enquanto vejo o jogo, mas identifico-me com cada palavra que escreve. Seguirei as suas crónicas semanalmente. Abraço e para a frente é que é o caminho
Sofia Lage
Caro Tiago
Muito obrigada pela partilha!
Sente-se o calor nas suas palavras, a saudade do que ficou, mas sobretudo a coragem e a força de quem partiu e levou consigo aqueles que ama.
Espero que corra tudo bem, especialmente com o Bruno (sou professora e sei como nem sempre é fácil com as crianças, embora elas tenham o dom de nos surpreender: no princípio não falam e de repente parece que mudaram de língua!)
A Austrália é o meu país de eleição! Se precisarem de uma Professora de Português e Inglês, avise-me! 😉
Ficarei a aguardar o próximo artigo!
Saúde e sorte (copiado por ser muito bonito e verdadeiro)
Sandro Miguel Ferrao Gonçalves
Obrigado por ter partilhado a sua experiência, ta bem quero emigrar sou professor de Educação Fisíca, mas quero é trabalhar e tou disposto a emigrar para qualquer país se me puderem ajudar com sites onde procurar e retirar mais informações agradecia
Bruno
Boas, Entrei no seu blogue sem querer mas vivi cada palavra do texto como se fosse o que se passa comigo (diferença apenas no clube, rival diga-se 🙂 ) mas fiquei com a sensaçao que tenho de acompanhar… viver experiencias e compara-las a quem passa pelo mesmo acredito que seja vantajoso… Força
Gonçalo da Silva
Tiago,
Estou na Australia faz dois anos (sediado em Brisbane) e recentemente conheci um outro Portugues que trouxe a familia. Embora eu pense em voltar para Portugal (a minha esposa e Australiana e quer viver em Portugal), compreendo que com criancas seja mais facil ficar. Que tipo de seguranca e que conseguiras dar ao teu filho em Portugal? depois da escola, o que ha? De momento, desemprego. Sera dificil convencer um jovem a voltar para isso. Sei que os meus novos amigos nao o vao fazer… as suas filhas ja estao mais que adaptadas a Australia e duvido que queiram voltar para Portugal para encontrar dificuldades.
Embora tenha vindo a procura de uma nova experiencia, viver no pais e cidade onde a minha esposa cresceu, custou-nos muito deixar Portugal e custa-nos bastante saber que nao vamos conseguir voltar em breve. Tenho a familia e os amigos la, temos a cultura… mas e o sustento?
Ana
encontrei o blogue numa pesquisa que fiz, e li o artigo com um sorriso enorme, como nós parte dos Portugueses que vive a cada dia momentos menos fáceis, percebem a decisão de escolher outra opção, desejo-lhe a maior sorte do mundo, e um futuro cheio de boas perspectivas